sábado, 11 de julho de 2009

Moinhos de vento

Nortada, fria e calculista como a gélida e inóspita terra escolhida para nascer, silenciosa, como os costumes, inebriante como um floco de neve, sempre diferente e inevitavelmente desfeito pelo toque.
Força consistente do vento que sinto e do frio que temos, engana-nos o sonho e confunde-nos a inteligência, mas jamais deixes de soprar aos ouvidos dessa ladainha da memória, em sucessivos desvios de folhagem, como as árvores que teimam em crescer, sozinhas.

11 comentários:

Anónimo disse...

Enquanto houver em nós D. Quixotes haverá sempre moinhos de vento, talvez a sabedoria seja equilibrá-los com os Sanchos Pança que vivem em todos nós.
Entretanto, vem-me à memória uma frase de Pessoa" Entre mim e a vida há um vidro ténue.Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar".

Aeroporto de Alcochete disse...

Desta redoma em que me deito, sonho, sem medo, nem amanhã, talvez invisível, ou ansiando por ser encontrado sem procurar, porém, esperando ver a luz.
Todos os dias da vida são curtos, se lhes dedicarmos tempo.

Anónimo disse...

Diria que sem pensar no tempo, mas vivendo-o neste momento feito agora, os dias nunca serão curtos nem longos, serão o presente feito vida.E só assim vale a pena viver.

Sem promessas de aeroporto na varanda...um sorriso franco, com afecto.

Aeroporto de Alcochete disse...

Encontrar o eco de cada um de nós é possível, se todos as superfícies forem puras e límpidas de vontade como a imagem no espelho que de nós inconscientemente desenhamos.
Depois de perdidos, os encontrados só procuram reconhecer a origem da imagem, e sorriem.
(viciado em viajar no tempo, Lost)

Anónimo disse...

Viajar no tempo é sedutor. Confesso que faço grandes viagens, acompanhada de ecos, imagens, flashs, vontades…e vou e volto do futuro e do passado com a mesma ligeireza com que aterro no presente e me faço eu. A imagem do espelho fala-me sempre de todas as viagens e serei a súmula de todas elas, porque eu não sou o que vejo nem o que vêem quando me olham, eu sou o intervalo entre o princípio e o fim e a minha origem está nos momentos em que não me senti perdida.

Aeroporto de Alcochete disse...

Sedução e promessas continuam intimamente associados, ambos se esfumam em pouco mais do que nada, se a ligeireza do voo sofre uma aterragem intempestiva por falta de tempo, ou de energia. A obra inacabada da existência só tem sentido se tiver a continuidade com que se completa, por ciclos de pesquisa envoltos em teias de consolidação e intermináveis momentos de glória, de memória e de prazer.

Anónimo disse...

É de fumo que falamos. Sinais densos com significado na persistência e na tolerância, na esperança e na vontade, contrapondo a outros de que se esfumam na dúvida, na insegurança, na inconsistência e na ausência de transparência. Por mais que a aranha construa a sua teia e se empenhe na sua solidez, existem arremessos externos que criam níveis de descontinuidade no resistente e flexível fio, criando mesmo feridas de perplexidade. A obra perpetua-se e estará sempre inacabada enquanto não houver a festa da adiafa.

Aeroporto de Alcochete disse...

Fiquei agora sinceramente preocupado com o tipo de festa. Habituámo-nos a ver lutas e festas a propósito de tudo e de nada, isto porque se de trabalho falarmos teremos obrigatoriamente de ouvir falar de lutas. Transparentemente não concordo, mas isso são coisas de economista, que não sou, e de modesto e racional pensador, no que diz respeito à construção social que me encanta, mas para a qual ainda não chegou o meu tempo de exposição pública.
Como se tornou inevitável falar de tempo, acho que se perde e se esgota quando se não aproveita, todo, com afecto e inteligente discussão de ideias, em vez de outras
mundanices.

Anónimo disse...

Fiquei agora sinceramente preocupada com a alusão mundana. Não que o mundano não me interesse do ponto de vista da arquitectura social. Profissão que não exerço!, não passo de mera engenheira de visitas e de sã convivência, com o comedimento enraizado no bom senso. Apraz-me a provocação inteligente dum téte à téte baseado na afectividade e no estímulo neurológico, que me entese os neurónios e que os meta com a mão na massa. Voltamos à obra…ao trabalho…às lutas. Não de classe, não de sexos( nada onde não goste também de dar o ar da minha graça!) Mas a luta continua e a vitória é certa!
A situação geográfica dá para espraiar as ideias num estuário vasto de pontes com ida e volta e eu dou voltas debaixo de água para apanhar algum sentido e o cristalizar numa ideia. Mas da discussão nasce a luz, essa que todos procuramos e poucos enxergam, mesmo quando a tiveram tão perto.
Ah, a festa…a adiafa, a recompensa do fruto do trabalho, é uma festa singular onde se premeia o conseguido pelo esforço e pela vontade dos obreiros, nada de mais!

Aeroporto de Alcochete disse...

Nada que nos surpreenda, nem os sinais de fumo são enigmas, nem a estreita ligação entre o mundano e o aniversário do primeiro passo humano na lua é uma coincidência.
Exclusivamente, porque nada acontece por acaso e a negação do óbvio, que sempre tento evitar, pode começar a todo o momento a deixar de fazer sentido.
Adoro água, mas prefiro as pontes, e gosto das palavras como ferramenta exploratória das ideias, para lá dos sentidos, sem os afastar.

Anónimo disse...

O enigma talvez resida nas voltas que damos às costuras da vida. Elas deveriam ser simplesmente unidas como os deuses querem, normais e direitas, sem os refegos que nós lhes impingimos, depois de ouvirmos constantemente a barulheira ensurdecedora da mente. Pensar dá tanto jeito, como é que pode atrapalhar tanto? Hoje estou particularmente naif! :)
Daí me venha o espanto de como chegamos a negar o óbvio. É a mente que o nega, é o centro da razão que se desdiz e contradiz. O que sabemos verdade, afirmamos a pés juntos ser oposto. Umh! Algo me diz que temos que observar e controlar um pouco mais essa impostora. Como? Talvez nem só os neurónios saibam o que fazer, talvez uma sabedoria maior deva ser tida em conta.